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terça-feira, 19 de maio de 2009

O ENTENDIMENTO DE CALVINO SOBRE OS TEMAS:

I - DEUS
Ao contrário que muitos pensam a doutrina fundamental calvinista não é a predestinação. A teologia calvinista poderia muito bem corresponder a seguinte divisa: honra e glória somente a Deus, ou seja, a doutrina sobre Deus serviu de base para todas as demais doutrinas calvinistas, aliás, a doutrina de Deus é sempre elemento fundamental em qualquer teologia.

Em seu livro História do Pensamento Cristão, o teólogo Paul Tillich, relata que Calvino aplicou a Deus uma palavra que mais tarde seria redescoberta pelo também teólogo Rudolf Otto (25 Set 1869 a 06 Mar 1937), numinoso, palavra esta oriundo do latim, numem, que significa deidade ou influxo divino (força espiritual atuante). Para Calvino Deus é inatingível, terrível e, ao mesmo tempo, fascinante, sendo que Deus atua na vida humana de forma constante, o que veio a influenciar na formulação da teologia calvinista da predestinação, que para Calvino era um eterno decreto divino, pelo qual Deus determinava consigo mesmo o que anelava que cada homem se tornasse. Calvino também entendia que tentar representar Deus ou o divino por meio de uma imagem seria diminuir a glória divina, pensamento este que refletiu nas igrejas calvinistas que não possuíam em seus templos qualquer imagem do sagrado.

II - JESUS CRISTO
Calvino desenvolveu uma Cristologia ortodoxa que deixou transparecer a sua constante preocupação em evitar qualquer confusão entre a humanidade e a divindade de Cristo. Tanto é verdade, que Calvino veio a concordar com Zwínglio contra Lutero, que sempre enfatizou a unidade da pessoa de Cristo acima das duas naturezas. Calvino ao contrário sempre destacou a distinção entre as duas naturezas de Cristo.

A Cristologia calvinista debatia a obra de Cristo dentro de três funções exercidas por Jesus Cristo, que seria a de profeta, rei e sacerdote. Profeta porque Nele todas as profecias se cumprem, sendo então profeta por excelência, não apenas por intermédio de sua boca, mas todo o seu corpo, cujas ações podem-se notar o poder do Espírito Santo. Cristo como rei da igreja compartilha com seus súditos tudo o que ele recebeu. E o Cristo sacerdote veio apresentar-se a Deus como sacrifício, cumprindo assim, todos os antigos sacrifícios que não tinham outra validade senão em Cristo.

III - ESPÍRITO SANTO
A ação do Espírito Santo foi elemento fundamental para a formulação calvinista sobre a eclesiologia e a doutrina dos sacramentos. Para Calvino o Espírito Santo é o Espírito de toda a santificação, isto é, somente pelo auxílio do Espírito Santo é que o ser humano pode assemelhar-se a Cristo, readquirindo a imagem de Deus. E para este intento o Espírito Santo utiliza-se como ferramentas a pregação, os sacramentos, a oração, a disciplina e a comunidade eclesial visível, que são os meios externos da salvação. Além do mais, do Espírito Santo emana o testemunho de que a Bíblia contém a verdade absoluta.

Uma outra utilização da ação do Espírito Santo por parte de Calvino, foi a questão da eucaristia, pois ao contrário de Lutero, que defendia a teoria chamada de “impanação” ou “consubstanciação” onde Cristo estaria presente durante a eucaristia. Calvino entendeu que sem a ação do Espírito Santo é impossível que o corpo de Cristo, que está à direita de Deus desde a ressurreição pudesse se tornar alimento para os crentes ou pudesse estar presente durante a eucaristia, pois isto para Calvino, implicaria em uma nova encarnação daquele que já reina em glória, a saber: Jesus Cristo. Assim sendo, para Calvino o Espírito Santo tinha a função de elevar os corações dos comungantes para participar da substância do exaltado, ou seja, os crentes comiam e bebiam os elementos da ceia apenas espiritualmente. Calvino não via problema nesta doutrina, pois para ele nada podia ser mais real do que aquilo que era provocado pelo Espírito Santo.

IV - BÍBLIA
A autoridade da doutrina das Escrituras foi tão importante em Calvino, que veio a incentivar o surgimento do biblicismo em todos os grupos protestantes. Para Calvino, a Bíblia era a lei da verdade, além de referi-se a ela como “a escola específica dos filhos de Deus”.

Segundo Calvino a Bíblia teria sido composta sob o ditado do Espírito Santo, tendo sido os discípulos apenas as “penas” (canetas) de Cristo, cujos escritos testificavam a presença dos “oráculos” de Deus (oráculos são as resposta da divindade a quem a consultava). Calvino relatava que a Bíblia inteira tinha sido escrita “a partir da boca de Deus”, entendimento este que levou ao desaparecimento de qualquer distinção entre o Antigo e o Novo Testamento, tendo sido então, adotado esta concepção da não divisão da Bíblia em todos os países calvinista.

V - HOMEM
Conforme Calvino, o Homem possuía uma natureza de corrupção total, corrupção esta trazida pelo pecado, sendo que a volição humana é incapaz de se mover em direção ao bem devido à escravidão do pecado. De acordo com Calvino a volição humana é como um cavalo conduzido por seu cavaleiro; em nosso estado decaído o cavaleiro seria o diabo, isto é, nós fazemos o que o diabo quer que façamos, apesar de que este consentimento aos estímulos do diabo é de forma voluntária, pelo fato de nossa vontade coincidir com os referido estímulos.

Para Calvino o Homem perdeu na queda de Adão os seus dons sobrenaturais, que originalmente possuía, sendo que os dons naturais estão corrompidos. Os dons naturais a que Calvino se referia que foram perdidos na queda humana eram a fé e a integridade necessárias para a felicidade eterna, enquanto que os dons naturais corrompidos seriam o intelecto e a vontade humana.

VI - PECADO E SALVAÇÃO
Calvino entendia que o grande pecado de Adão não fora sua desobediência, mas sim, o pecado da incredulidade, por não ter acreditado em Deus inclinando-se para ouvir a serpente, perdendo assim, a sua integridade original que lhe fora concedida divinalmente para proteção, não apenas de si mesmo, como para toda sua posteridade. Calvino então, compreendia que apesar do pecado original ser hereditário e de já está presente desde o ventre materno, não é transmitido na sensualidade em que a pessoa é concebida, mas está simplesmente no fato de sermos filhos de Adão.

Assim sendo, o Homem veio a herdar o pecado de Adão, não tendo então, nada a fazer por sua salvação, uma vez que a vontade humana fora corrompida pelo pecado. Consequentemente, Calvino ensinou que a salvação é um assunto de Eleição incondicional e independente do mérito humano ou da presciência de Deus. Pois para Calvino, a Eleição estava fundamentada na soberania da vontade de Deus, existindo uma predestinação dupla, uma para salvação e outra para a condenação. Para isto, Calvino concebeu uma limitação da redenção, ao propor que a obra de Cristo não cruz fora restringida somente aos eleitos para a salvação, o que veio a criar a doutrina calvinista da Irresistibilidade da Graça, quando o eleito é salvo independentemente de sua vontade, pois segundo a perspectiva calvinista é o Espírito Santo que dirige irresistivelmente o pecador para Cristo.

VII - IGREJA, ESTADO E POLÍTICA
A visão calvinista sobre igreja veio a se assemelhar a do luteranismo, pois de acordo com Calvino a igreja seria um lugar onde se pregava e onde os sacramentos eram corretamente administrados. Todavia, Calvino estabeleceu uma dicotomia eclesiástica, determinando uma igreja visível e uma outra invisível. Enquanto que para Lutero a igreja invisível seria apenas a qualidade espiritual da igreja visível, para Calvino a igreja invisível seria o corpo dos predestinados em todos os períodos da história, independente da pregação da Palavra. Outra diferença da concepção de igreja entre Lutero e Calvino, era que para Lutero a igreja trazia duas marcas a saber: doutrina e sacramentos, sendo que para Calvino a igreja possuía três marcas, além da doutrina e dos sacramentos, possuía a marca da disciplina; apesar de que as punições disciplinares não interferiam na salvação dos predestinados, mesmo que estes viessem a ser excomungados.

Calvino, por ser humanista, concedeu ao Estado muito mais funções do que Lutero, que lhe dava apenas uma função: suprimir o mal e preservar a sociedade do caos. Calvino propunha um governo de cooperação mútua; desenvolveu as idéias humanistas de bom governo, de ajuda ao povo, acreditando assim como Zwínglio que se poderia chegar ao estabelecimento de uma teocracia, visível na aplicação das leis evangélicas na situação política, com a consequente soberania de Deus. Calvino pretendia, com o auxílio dos magistrados de Genebra na Suíça, criar uma comunidade governada pela lei de Deus. Entretanto, isso não significava que o Estado iria intervir no ensino da igreja ou decidir sobre o conteúdo do ensino, mas caberia apenas supervisionar a vida da igreja e punir os blasfemadores e hereges. De acordo com Calvino, o Estado deveria punir os ímpios por serem criminosos quando se opusessem à lei do Estado que estava baseada na lei de Deus.

Segundo Calvino existiam um governo duplo sobre o Homem, um era de aspecto espiritual, por intermédio do qual a consciência humana era instruída na piedade e na reverência a Deus. O segundo governo seria de aspecto político, onde o homem era educado para os deveres da humanidade e cidadania que deviam ser mantidos entre os seres humanos. Para Calvino os cristãos individualmente não deveriam resistir a autoridade de seus governantes, mesmo se eles fossem fracos ou maus, pois a autoridade dos governantes provém da soberania de Deus. Entretanto, Calvino estabeleceu duas exceções para esta regra geral, a primeira é que os magistrados menores, cujo dever era o de defender os interesses do povo, estariam se esquivando de sua responsabilidade se não chamassem a atenção de governantes tiranos. A segunda exceção estava relacionada com o reinado contínuo de Cristo, pois os cristãos sempre deveriam obedecer a Deus acima dos governos terrenos, de forma que um cristão deveria recusar-se a obedecer qualquer lei civil ou exigência que fosse contrária à lei de Deus. Destarte, um segmento substancial do Calvinismo foi posteriormente capaz de se posicionar de forma revolucionária, apesar da posição basicamente conservadora de Calvino em aplicar as duas exceções supracitadas as quais foram estabelecidas por ele próprio.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAIRNS, Earle. O Cristianismo através dos séculos: uma história da igreja cristã. 2ed. São Paulo: Vida Nova. 1995.
DREHER, Martin. A crise e a renovação da igreja no período da reforma. 4ed. São Leopoldo: Sinodal. 2006. Coleção História da Igreja, Vol 3.
GONZALEZ, Justo. Uma história do pensamento cristão: da Reforma Protestante ao século XX. São Paulo: Cultura Cristã. 2004.
TILLICH, Paul. História do pensamento cristão. São Paulo: Aste

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